“O luxo é a manifestação da riqueza
que quer impressionar o que permaneceu pobre.
É a manifestação da importância que se dá
à exterioridade e revela a falta de interesse por tudo
o que seja elevação cultural. É o triunfo
da aparência sobre a substância.
O luxo é uma necessidade para muitas pessoas que
querem ter um sentimento de domínio sobre os outros.
Mas os outros se forem pessoas civilizadas
que o luxo é fingimento, se forem ignorantes admirarão
e até talvez invejem os que vivem no luxo. Mas a quem
interessa a admiração dos ignorantes? Talvez aos
estúpidos.
De facto, o luxo é uma manifestação de estupidez.
Por exemplo: para que servem as torneiras de ouro
se dessas torneiras sai uma água inquinada?
Não será mais inteligente, com o mesmo dinheiro,
mandar pôr um filtro de água e ter torneiras normais?
O luxo é pois o uso errado de materiais dispendiosos
sem melhoria das funções. É portanto uma estupidez.
Naturalmente que o luxo está ligado à arrogância e ao
domínio sobre os outros. Está ligado a um falso sentido
de autoridade. Antigamente a autoridade era o feiticeiro,
que tinha ornamentos e objectos que apenas ele podia ter.
O rei e os poderosos usavam caríssimos tecidos e peliças.
Quanto mais o povo era mantido na ignorância
tanto mais a autoridade se mostrava coberta de riquezas.
E ainda hoje em muitos países se verificam
estas manifestações de aparências miraculosas.
No nosso tempo, porém, entre as pessoas sãs, procura-se
o conhecimento da realidade das coisas e não
a aparência. O modelo já não é o luxo e
a riqueza, já não é tanto o ter quanto o ser
(para dizer como Erich Fromm).
À medida que o analfabetismo diminui, a autoridade
aparente cai e em lugar da autoridade imposta
surge a autoridade reconhecida. Um cretino sentado
num enorme trono podia talvez sugestionar
no passado, mas hoje, e sobretudo amanhã, espera-se
que não volte a ser assim. Desaparecerão os tronos e
as poltronas de luxo para os dirigentes impostos, os
móveis especiais para os chefes, os cadeirões de luxo
colocados em estrados de mogno, os ornamentos, as
hierarquias, e tudo o que servia para impressionar.
Em suma, quero dizer que o luxo não é um problema
de design.”